Diferentes segmentos do café brasileiro seguem contabilizando as vitórias do setor em 2024, principalmente a alta de preços e o aumento das exportações.

A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS) divulgou essa semana dados que indicam um crescimento de 13% nas exportações do produto em 2024, na comparação com o ano anterior.

O volume exportado foi equivalente a 4,093 milhões de sacas, ante 3,622 milhões contabilizados em 2023.

Em entrevista ao AgFeed, o diretor executivo da ABICS, Aguinaldo Lima, explicou que normalmente o café solúvel acompanha o crescimento das exportações da cadeia como um todo.  “Geralmente crescem juntos, no café grão também (a exportação) também foi recorde. A tendência é crescer porque mostra a competitividade do Brasil”.

Em receita, as exportações brasileiras de café solúvel renderam US$ 950,056 milhões de janeiro a dezembro de 2024, o que representa um crescimento de 35,3% frente ao mesmo período do ano anterior, o que representou um recorde de faturamento.

Os principais compradores do café solúvel brasileiro são Estados Unidos e Rússia, que aumentaram as compras em 10,9% e 340%, respectivamente.  O curioso, segundo a entidade, é que um país produtor de café solúvel, a Indonésia, desta vez ficou em terceiro no ranking dos mercados que mais importaram o produto brasileiro.

Mercado interno cresce menos

Segundo a ABICS, o consumo de café solúvel no Brasil totalizou 1,069 milhão de sacas do produto. Houve um crescimento de 0,6% em relação a 2023, o que mostra uma forte desaceleração em relação ao padrão que vinha sendo registrado nos anos anteriores.

Lima disse ao AgFeed que de 2016 em diante o consumo do brasileiro vinha avançando em média 3,6% ao ano. Em 2023 o crescimento foi de 6,3%, superando até o período da pandemia, onde houve alta expressiva no consumo de café solúvel.

Na visão do diretor, a desaceleração se deve à alta de preços do café ao consumidor. Com oferta restrita, problemas climáticos e consumo global em elevação, a commodity vem registrando cotações recordes desde o ano passado.

No Brasil a saca de 60kg de café arábica, segundo o indicador Cepea/Esalq, está acima de R$2,4 mil neste mês de janeiro. Há um ano estava em pouco mais de R$ 1 mil.

Analistas de mercado sinalizam que algumas torrefadoras estariam dispostas a utilizar mais café conilon nos blends em função do preço mais baixo, atualmente.

Aguinaldo Silva não acredita em comportamento semelhante na indústria de café solúvel, avaliando que a diferença entre arábica e conilon segue muito estreita, diferentemente do passado, quando o robusta valia bem menos.

Na produção de solúvel há itens que levam 100% de arábica, outros 100% de conilon e outros que fazem blends. Mas na indústria como um todo se calcula que 80% seja conilon e 20% arábica.

A ABICS considera que consumo interno ainda cresceu, apesar da alta de preços, porque as empresas vêm investindo em novos produtos, aplicando em novas tecnologias, aromas e sabores.

Além da bebida em si, com água ou com leite, o solúvel é usado em produtos prontos para beber e até em balas, chocolates e sorvetes.

Para 2025, a previsão da entidade é de que o consumo interno cresça entre 1% e 2%. Já as exportações podem ficar perto da estabilidade.

Efeito Trump e “taxações”

O diretor da ABICS “acha difícil” que o presidente do Donald Trump venha a taxar o café. “Se fizer isso ele vai atingir o consumidor americano”.

Nos últimos dias o clima de tensão entre EUA e Colômbia trouxe preocupação ao mercado.

O Brasil é o maior fornecedor de café para os americanos e a Colômbia está em segundo no ranking.  Lima admite que se concorrentes como a Colômbia forem taxados, o Brasil seria favorecido, mas desde que as tarifas não fossem aplicadas também ao produto brasileiro.

O dirigente também comentou os rumores desta semana sobre setores do governo que avaliam uma possível taxação das exportações agrícolas do Brasil.

“Para taxar exportação é preciso uma emenda constitucional, acho muito pouco provável que tenha sucesso”, afirmou. Na visão dele, o caminho para baixar preços de alimentos é reduzir a carga tributária que hoje fica entre 30% e 40%.