São nada menos do que 31 anos a serviço de uma mesma empresa. O atual CEO da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, começou como agrônomo na companhia, no início da década de 1990, numa época em que não se falava em agricultura na bolsa de valores e a marca SLC era também sinônimo de máquinas agrícolas.
Criado em 1945, o grupo começou com ferramentas agrícolas, no Rio Grande do Sul. Ficou conhecido por desenvolver um primeiro modelo do que seria uma colheitadeira de grãos. Mais tarde, trouxe a John Deere para o Brasil.
Na virada do século, porém, apostou suas fichas na expansão da agricultura do Cerrado, vendeu a fábrica de máquinas agrícolas, passou a comprar fazendas pelo País para produzir grãos e, em 2007, abriu o capital na bolsa brasileira.
Quando Aurélio Pavinato assumiu a posição de CEO, em 2012, o faturamento da SLC Agrícola era de cerca de R$ 1 bilhão. No ano passado a receita chegou a R$ 7,2 bilhões.
O momento de margens apertadas e preços mais baixos de commodities é mais um desafio que Pavinato tem a missão de enfrentar.
Na conversa exclusiva com o AgFeed demonstrou, entretanto, tranquilidade. Afinal, poucos dias antes, ao demonstrar ao mercado que teria um aumento de área plantada com redução de custos, a empresa contabilizava valorização de suas ações.
O executivo admite que a rentabilidade segue baixa para as principais culturas que produz, como soja, algodão e, especialmente, para o milho. Mas garante que a disposição em “aproveitar oportunidades” que surgem no momento como esse segue forte.
Uma demonstração nesse sentido seria a aquisição, anunciada nesta segunda-feira, 7 de outubro, da participação de minoritários na SLC Landco Empreendimentos Agrícolas, subsidiária da SLC Agrícola, pelo valor total de R$ 524,8 milhões.
O valor é o correspondente a 18,8% da avaliação de 86.783 hectares de terras e da infraestrutura da SLC Landco, segundo comunicado divulgado pela empresa. "A conclusão desta operação permite maior flexibilidade na execução das estratégias de otimização de ativos agrícolas e expansão de operações da SLC Agrícola através de novos arrendamentos mantendo o equilíbrio entre terras próprias e terras arrendadas", diz a nota.
Pavinato sinalizou, no campo agrícola, a intenção de plantar mais sorgo nas fazendas próximas aos projetos anunciados pela fabricante de etanol Inpasa, que usa não apenas milho, mas também passará a comprar sorgo para produzir o combustível.
Aproveitar melhor o trigo como cultura de segunda safra, em função das novas variedades disponíveis, é outro plano da SLC para a temporada 2024/2025.
Quando avalia tendências futuras, o CEO da SLC ressalta o crescimento dos biocombustíveis mundialmente e “o papel do Brasil na transição energética”.
Há muito tempo se especula se a SLC poderia atuar também como agroindústria, inclusive no etanol de milho.
Pavinato não revela detalhes, mas quando perguntado sobre como imagina a próxima fase da empresa diz que deve haver “diversificação dos negócios, com agregação de valor”, sinalizando que não seria apenas uma maior variedade de cultivos e sim novas atividades comerciais.
Enquanto isso, ainda no que a empresa chama de “fase 3, da eficiência”, a SLC acredita que poderá dar primeiros passos para comercializar créditos de carbono.
Segundo o CEO, a empresa já está sendo remunerada por meio do projeto piloto com o Ipam – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – pela preservação de vegetação nativa na Fazenda Perdizes, em Mato Grosso.
Acompanhe os principais trechos da entrevista de Aurélio Pavinato ao AgFeed.
A SLC costuma dizer que vive sua fase 3. Pode explicar o que isso significa?
A SLC Agrícola começou em 1977. Tinha três fazendas lá no Rio Grande do Sul. Tinha uma fazenda em Santo Augusto, uma outra em Horizontina e outra em São Luís Gonzaga. Em 1977, os sócios da época resolveram juntar aquelas três fazendas e formar uma empresa. E eles formaram a SLC agrícola. Na época chamava Agropecuária Schneider Logemann.
Em 1980 a empresa comprou a Fazenda Pamplona, em Goiás. Aí começou a expansão para o Cerrado. Ao longo desses primeiros 30 anos, de 1977 a 2007, o projeto era comprar fazendas na fronteira agrícola do Brasil. Comprou no Mato Grosso do Sul, depois comprou no Maranhão. Sempre a cada quatro, cinco anos.
Comprava, aí transformava aquela fazenda em fazenda produtiva. E assim foi até 2007, quando abriu o capital. Então, é o que a gente chama de fase 2 da empresa. Captou dinheiro do mercado, se vendeu, na verdade, uma parte da empresa. E aí a gente comprou muitas terras ao longo de 2007 e 2015. Foi a fase dois, uma fase de expansão forte. Comprando áreas, arrendando áreas também.
Depois mudou a estratégia novamente?
Veio a fase 3, depois de 2015. A gente parou de comprar áreas com vegetação nativa. Mas aí continuou transformando aquelas que tinham sido compradas anteriormente até 2021. Então a fase agora, a fase três, é a que nós chamamos da fase da eficiência. A expansão em áreas maduras, expansão via arrendamentos, buscando maior eficiência na produtividade. É a fase que a gente cresceu muito a área plantada via arrendamentos.
E agora em 2021, a gente encerrou aquele processo de transformação de área de cerrado. Já assumimos um compromisso com o mercado, a gente não vai expandir mais a nossa operação em áreas desmatadas depois de agosto de 2021. Então o ano 2020/2021, foi o último ano que a gente desmatou cerrado para plantar.
Quanto que era o faturamento da empresa lá na época que abriu o capital?
Em 2007, fechou R$ 270 milhões de reais. Em 2012, eu lembro quando eu assumi, faturou R$ 1 bilhão. E agora em 2023, nós fechamos com R$ 7,3 bilhões de faturamento. Aí via expansão de área e também em agregação de valor, com mais algodão, que fatura três vezes o que fatura soja. Mais segunda safra, então a expansão da área física de plantio, que a gente planta em torno de 500 mil hectares de área física.
Com a segunda safra, a gente vai plantar 736 mil hectares. Então essa é a nossa evolução da área plantada, evolução da segunda safra e mais algodão, semente também, semente de soja, semente de algodão. Tudo isso agrega valor e agrega faturamento. E resultado.
E as apostas em termos de culturas e regiões também mudaram?
Com certeza. A gente começou com algodão já em 1997. Quando o algodão começou a ser plantado no Mato Grosso. Até então, o algodão era plantado no Paraná e em São Paulo. Era aquele algodão de baixa produtividade e baixa qualidade, porque chovia em cima do algodão pronto para colher. E quando o algodão migrou para o Cerrado, nós abraçamos, porque é uma cultura que realmente gera mais valor. Foi uma cultura importante nessa história nossa da empresa.
O que ela representou para a companhia?
Até 2010, praticamente não tinha segunda safra. De 2010 para cá, a segunda safra se consolidou pela tecnologia que foi desenvolvida, adaptada, e hoje tem segunda safra.
"Estamos testando o trigo em sequeiro, o trigo segunda safra, que é o futuro"
Hoje, o algodão é produzido tanto quanto na primeira safra. E a safra de milho também, produzindo 10 mil quilos de milho por hectare, mesmo segunda safra. Isso está consolidado. Em termos de culturas, culturas anuais é aquela história. São as opções que existem. São as três grandes culturas. Soja e milho são as grandes culturas do Brasil. Arroz seria uma grande cultura do mundo, mas o Brasil praticamente não exporta arroz, né?
Trigo também interessa para a empresa?
Trigo nós temos na Fazenda Pamplona (em Goiás), e na Bahia, em sistema de irrigação. E agora estamos testando o trigo em sequeiro, que é o trigo segunda safra, que é o futuro. O Brasil hoje produz de tudo, exporta de tudo na parte do agro. O trigo é a cultura que nós importamos. A gente ainda importa um pouco de trigo no Brasil. E agora está entrando o trigo como segunda safra.
É o trigo transgênico HB4?
Não, não é o HB4. O HB4 ele está entrando também, mas hoje tem algumas variedades que são mais tolerantes à brusone. É uma doença que dá no trigo, porque o trigo é de clima frio, então é produzido no Sul. Agora está entrando o trigo no Cerrado, nesse clima mais quente, e aí acabava dando muito brusone. E agora está tendo variedades resistentes, tolerantes à brusone e está se adaptando bem. Então é uma opção de segunda safra.
Qual a estratégia para a cultura?
Hoje a segunda safra de milho é forte no Mato Grosso, Mato Grosso Sul, Paraná. E agora está entrando o trigo como sendo uma opção de segunda safra para Goiás e Bahia, que é a região que chove um pouco menos. Nesta safra 2024/2025 devemos plantar algo em torno de 12 mil hectares de trigo, tudo segunda safra, ou irrigado ou sequeiro (na safra 2023/2024, segundo comunicado da empresa, foram menos de 10 mil hectares).
Temos ouvido muito sobre a tendência de crescimento do sorgo também...
O sorgo é uma opção ao milho como alternativa de segunda safra. Ele demanda um pouco menos de água e (é plantado) em regiões onde já não é possível mais plantar milho. Início de março, por exemplo, já fica no limite para plantar milho. Aí planta o sorgo. Então Bahia, o Piauí, por exemplo. No Maranhão uma parte planta milho, uma parte planta sorgo. O sorgo está entrando como sendo mais uma opção.
Já aumentou a demanda da indústria pelo sorgo?
Agora você tem etanol de milho e de sorgo. É uma opção para etanol. A própria Inpasa, está estimulando o plantio de sorgo no Maranhão, que ela está colocando uma indústria de etanol. Na Bahia também, ela vai colocar agora em Luís Eduardo Magalhães.
Então a SLC deve investir em sorgo também?
Dentro desse encaixe das áreas que não é possível colocar milho, que já fica com pouca chuva para milho, o sorgo acaba sendo uma opção sim. Nessa safra a gente vai só fazer pequenas áreas. Depende muito mais de quando chove para plantar. A gente até não colocou no planejamento agrícola.
Por quê?
Então, depende oportunisticamente a gente plantar sorgo. É uma alternativa para o futuro. Mas são alternativas complementares. Não são culturas que vão ter escala, entendeu? Tem culturas que vão ter um espaço complementar.
Em Mato Grosso do Sul, onde está a SLC, a Inpasa já começou a comprar sorgo...
No Mato Grosso do Sul a gente consegue fazer milho. Porque o milho, em termos de produção, acaba sendo melhor do que o sorgo. O sorgo se encaixa numa janela que já o milho não encaixa mais. Aí, em Mato Grosso do Sul, não justifica. O sorgo tem um preço menor que o milho e produz menos por hectare. Claro, tem um custo menor. Mas essa combinação de custo, produtividade e preço é que tem que ser analisada ainda. Mas, normalmente, onde é possível fazer milho, ele acaba sendo mais rentável do que o sorgo. Onde já não é possível fazer milho, o sorgo é a opção.
Então a maior chance de investimento em sorgo estaria no Maranhão mesmo?
Hoje, no nosso portfólio, o Maranhão é a principal área nossa. Tem o Vale da Araguaia, que tem alguma área excedente que poderia encaixar também. E Bahia, alguma coisa, na medida em que tiver demanda ali. No caso, quando a Inpasa construir a usina em Luís Eduardo Magalhães.
Nesta largada, quanto de área devem prever para o sorgo?
Nesse caso, que é uma cultura complementar, que ocupa uma área que está desocupada, não tem essa demanda de escala. Pode ser 5 mil hectares, pode ser 3 mil hectares, pode ser 10 mil hectares.
"No sorgo, você usa a mesma plantadeira da soja, a mesma máquina que colhe o milho. Não tem necessidade de investimento. É uma opção"
Então não é uma nova cultura que vai ocupar o espaço de uma outra que vai ter que fazer um investimento, como o algodão. Não tem que investir em máquina para colher, nem investir em algodoeira. No caso do sorgo, você usa a mesma plantadeira da soja, a mesma máquina que colhe o milho. Não tem necessidade de investimento. É uma opção.
Nesta fase 3, da eficiência, que é a fase que está hoje, mudou a estratégia sobre aquisição? Porque vocês também fizeram algumas parcerias recentes...
A gente tem evitado comprar terra. A gente tem feito arrendamentos. Nos últimos anos, o grande crescimento da nossa área plantada foi via arrendamentos. Neste ano especificamente, a gente arrendou 3 áreas. As 3 áreas que nós expandimos esse ano foram via arrendamento ou joint ventures. No caso, a terra é do nosso sócio, não é nossa, que foi o caso da Pioneira e o caso da Preciosa, duas fazendas que nós aumentamos a joint ventures. E o terceiro projeto foi no Piauí, que foi um arrendamento. A última terra que a gente comprou foi na Bahia, que era uma terra da Mitsui. A gente comprou um pedaço dela há dois anos.
Essa é a grande mudança na fase 3 da SLC?
Na nossa estratégia da fase 3 temos 4 pilares. O pilar 1 é o crescimento asset light. Então, é tentar crescer o máximo possível, evitando maiores investimentos. Não comprar a terra é uma forma de conseguir crescer mais, via arrendamentos. O foco é na eficiência.
O segundo pilar é o foco em áreas maduras, alta produtividade. Estamos investindo muito em agricultura digital para reduzir o custo de produção, reduzir a quantidade de insumos a serem utilizados na lavoura. Então, buscando maior eficiência, alta produtividade e baixo custo.
Obviamente, indicadores financeiros é o terceiro pilar, é gerar ao acionista retornos financeiros consistentes. E o quarto pilar é o protagonismo em ESG.
Pode dar mais detalhes?
A gente está trabalhando o tema da sustentabilidade. Na parte agronômica a gente sempre trabalhou e buscou ter um sistema de produção sustentável. E agora, mais fortemente, na parte ambiental e na parte social. Na parte ambiental, tem vários projetos, tanto que nós colocamos como meta carbono zero 2030 nos escopos 1 e 2.
Como pretendem atingir essa meta?
Para isso, a gente está fazendo uma série de ações, uma série de ações, reduzindo as emissões e aumentando as remoções. Um dos projetos que a gente está achando muito legal é o projeto da economia circular, tratar 100% dos esgotos e dos lixos das fazendas.
Em que estágio está esse projeto?
A fazenda Pamplona foi a primeira que a gente implantou no ano passado, e, hoje, 100% de tudo que se gera dentro da fazenda é reciclado. O resíduo seco é reciclado, o esgoto é tratado e o resíduo orgânico está sendo agora feita a compostagem para produzir fertilizante. Então, nada se perde, tudo se transforma.
Estamos com o projeto em mais quatro fazendas e a nossa meta, nos próximos cinco anos, é implantar em 100% da empresa, não ter nada a mais de geração de resíduo e tudo ser reciclado.
E no âmbito social?
Na parte social, temos vários projetos de apoio às comunidades locais, às escolas. Um dos projetos também que eu gosto muito é o projeto de incentivo à educação. Hoje, nós temos turmas de estudantes, com escola de jovens e adultos. Em cada fazenda tem uma turma para completar o ensino fundamental e completar o ensino médico. Já uns 303 colegas se formaram nesses últimos seis anos que a gente começou o projeto.
Vocês estão pensando em acessar o mercado de carbono também?
O mercado de carbono é um tema presente. Hoje o mercado de carbono que existe no Brasil é o mercado dos biocombustíveis, é o Renovabio, os CBIOs.
A SLC atua no mercado de CBIOs?
A gente, de forma indireta, já acessa. Quando a gente vende milho para fazer etanol, quem compra o nosso milho acaba pagando um pouquinho mais pelo crédito de carbono que ele gera. Hoje, no Brasil, existe esse mercado somente.
E tem essas áreas de preservação, áreas de reserva legal, áreas que você evita o desmatamento. Nós temos o projeto piloto na Fazenda Perdizes, que é do IPAM, Instituto de Pesquisa da Amazônia, em que eles estão pagando para nós o crédito de carbono pelo fato de nós termos evitado o desmatamento. Era uma área que a gente poderia desmatar, mas decidiu não desmatar e vender o crédito de carbono.
Tem gente que fala que o carbono vai ser mais uma safra para a agricultura brasileira, que vai render também. Acredita nessa visão?
Eu vejo como complementar. Obviamente, o mercado de carbono vai existir e vai ser grande, porque, se o mundo quer ser net zero, tem setores da economia mundial que vão continuar sendo emissores e outros setores que vão acabar removendo. E um vende para o outro, para que o balanço fique zero.
A lógica é que o mercado de carbono vai ser grande. Aquele setor emissor, em tese, vai pagar uma multa, um pênalti, para aquele setor que sequestra. E aí os dois se equilibram. Esse é o racional.
O produtor pode lucrar com isso?
Tem um mercado que é evitar as emissões, áreas protegidas vai ser uma receita para quem cuidar dessas áreas. Agora, o produtor em si, dentro da fazenda, produz soja, milho, algodão. O desafio nosso primeiro é ser o balanço zero. Em tese, eu vou poder vender créditos se eu for positivo. O biocombustível não sequestra carbono. Ele evita queimar o petróleo. Então, eu deixo de usar o petróleo. Eu uso o etanol. Então, eu tenho direito.
"A diversificação acaba sendo uma forma de mitigar riscos. Com o aquecimento global, os riscos climáticos estão mais fortes"
Nesse ponto, quando se olha a cadeia como um todo, produzir mais biocombustíveis, produzir o SAF, que é o combustível de aviação, produzir o HVO, o diesel renovável, a lógica é que os setores emissores vão acabar pagando um pouquinho de crédito para o setor produtivo.
Eu acho que sim, vai ser uma receita adicional. Mas na minha visão, não vai ser uma receita que vai pagar as contas. Ela vai ser uma receita incremental.
Na sua visão, qual será a fase 4 da SLC, quando se olha para o futuro?
Eu acho que uma fase 4 seria a diversificação. Seria uma diversificação maior com novos negócios em áreas diferentes, agregação de valor, ampliação de plataforma. Isso seria uma fase 4. Mas não está ainda desenhada. Isso só pensando em longo prazo, para onde a SLC poderia crescer, além do crescimento orgânico dos negócios que nós temos atualmente.
Até hoje a empresa realmente foi muito restrita à produção, ao cultivo. Existe chance de no futuro ir também para a parte de agroindústria?
Não tem nada definido. São espaços que existem, mas qual o caminho a seguir vamos definir ano a ano. A diversificação acaba sendo uma forma de mitigar riscos. Existem vários riscos nos negócios. E obviamente o risco climático está presente conosco o tempo todo. Com o aquecimento global, os riscos climáticos estão mais fortes. Então a diversificação acaba sendo benéfica, neste sentido.
O que visualiza em termos de tendências futuras para o agro?
Para mim está clara uma tendência em nível mundial que é o aumento do consumo de biocombustíveis. A gente sempre produziu alimentos e fibras, vamos continuar produzindo isso, mas os biocombustíveis vão se fortalecer ao longo dos anos dentro da lógica da transição energética. É uma área em que o Brasil cada vez mais vai exercer um papel importante. E as energias renováveis entram forte.
E os biológicos?
A tendência é os biológicos se fortalecerem e cada vez mais se controlar pragas e doenças com biológicos, ao invés de químicos. Na verdade, os dois vão conviver, mas o share dos biológicos que hoje ainda é pequeno, ele vai crescer. Será um mercado grande, na minha visão, no futuro, dentro de um racional de sistema sustentável de produção. A natureza sempre viveu em equilíbrio e, ao longo do tempo, o monocultivo gera alimentos para uma praga em detrimento das demais. A maior presença de biológicos está vindo ao encontro do manejo das culturas.
O controle químico é agressivo, ele combate o mal e tem efeito colateral. No caso da lavoura é a mesma coisa. Combate uma praga e as vezes mata o inimigo natural de uma outra praga. Por isso, o biológico está vindo muito bem, aumentando a presença dos inimigos naturais. À medida que passa o tempo, inclusive, a lógica é que diminua a pressão de pragas, com mais vida, com mais competição entre inimigos naturais e pragas. Mas o biológico, para nós na SLC, é uma ferramenta. Óbvio que tem um mercado de biológico que está ficando grande.
O gerente da fazenda Pamplona, quando o AgFeed esteve lá, disse que tem potencial para substituir 50% dos químicos por biológicos. Concorda com ele?
Concordo, mas dentro de um outro racional. Com a agricultura digital e a aplicação localizada, estamos conseguindo reduzir 20%, 25%, quem sabe vai chegar a 30% de redução sobre o total de defensivos. Vamos supor que se reduza em 30% o uso, independente de ser biológico ou químico. Estou usando menos químicos pelo fato de aplicar localizadamente. Fechamos a safra com quase 11% de redução de químicos com a aplicação localizada. E tem espaço pra evoluir muito e talvez chegar a 30% de redução. Dos 70% que sobrar, vou usar metade químico, metade biológico. Se colocar tudo na conta, um terço dos 100% que eu usava de químico, ele poderá cair 40% talvez. Os outros 30% eu reduzi porque uso localizadamente e os outros 30% eu uso biológicos. Nesta perspectiva eu vou reduzir mais de 50% os químicos.
Em quanto tempo isso vai ocorrer?
Demora, porque na parte de aplicação localizada ainda está muito devagar no setor como um todo. Nós estamos fazendo o máximo possível. Mas é pouca gente que faz porque demanda primeiro um MIP (Manejo Integrado de Pragas) bem feito, com tablet, para ter o mapa da presença de pragas, para poder enviar ao pulverizador e aplicar. Isso vai demorar uns anos ainda para o setor todo estar usando de uma forma mais consistente.
Nos biológicos, está mais espalhado porque tem uma indústria bem desenvolvida, pode ter uma produção on farm e pode comprar do mercado. Mas nos próximos 10 anos vai ter uma mudança bem forte na redução de químicos, uso de biológicos, e uso de aplicação localizada.
Na SLC como será o ritmo deste crescimento?
O primeiro step é mais rápido. Sair do zero para 15% (de substituição de químicos por biológicos) foi mais rápido. Ir para o 20 e 25% já são evoluções mais graduais. Para maturação total e uso máximo, será em 5 ou 10 anos. Envolve toda uma questão de domínio e de formação de equipe também
"A SLC está pouco alavancada e continua aberta ao mercado para tomar proveito das oportunidades"
O processo do manejo em si ele muda, tem que ter essa filosofia mais holística de visualizar a lavoura, conviver as vezes com a pressão da praga. A pessoa acostumada com os químicos demora a se adaptar a controlar as pragas com biológico. O efeito de choque é muito menor, tem que dominar este processo. Acho que 5 anos é um período bom para consolidar e ter o máximo possível.
Tem também a indústria evoluindo muito. Produtos biológicos que há 5 anos não eram eficientes. Ela também vai se consolidar nos próximos 5 anos. Já o setor como um todo, nos próximos 10 anos.
Quanto à safra 2024/2025, surpreendeu a intenção da SLC de aumentar área de cultivo para soja, milho e algodão, apesar das dificuldades do momento. Como se explica?
O crescimento da soja veio na inércia do que já vinha sendo investido para plantar mais. O negócio vinha bem, alta rentabilidade. Este ano ainda cresce na inércia. O efeito de ajuste pra baixo ou manutenção deve ocorrer no próximo ano, se os preços continuarem baixos. Assim que interpreto não ter reduzido ou mantido área (no Brasil).
Nós mesmos acabamos convertendo pasto este ano que estava projetado e acabou executando 5 mil hectares de pasto que virou soja. Isso deve ter ocorrido com outros produtores também, dentro do planejamento que eles tinham e da condição econômica de caixa que eles tinham gerado nos últimos anos bons, continuando a expansão.
E as outras culturas?
O milho é segunda safra, ele depende agora do plantio da soja. A área de milho pode crescer ou pode não crescer, dependendo de como vai estar o preço na hora do plantio. Este número de hoje é uma estimativa.
E o algodão?
O algodão acaba sendo uma opção melhor que o milho. Na segunda safra o preço do algodão está mais baixo, mas ainda gera uma rentabilidade razoável. Por isso produtor opta por algodão.
Mas por que o setor está investindo? Tem gente que está com problema, tem gente que está em RJ, mas o setor como um todo ele gerou bons resultados nos últimos anos. Então, em tese, o setor tem um caixa para investir. Eu interpreto assim, por isso que, mesmo com preço mais baixo e margem mais apertada, ele continua crescendo este ano.
A SLC manteve o avanço porque o planejamento já estava feito?
Não, no nosso caso estávamos pouco alavancados e temos uma lógica de que nos anos com margens mais apertadas é quando aparecem oportunidades de arrendamento. A gente aproveita as oportunidades para crescer. O crescimento nosso é porque a gente arrendou área de outros. Só estes 4,5 mil hectares que convertemos de pasto.
Essas oportunidades, inclusive aquisições, devem seguir aparecendo em 2025?
Com margem apertada, acaba aparecendo mais oportunidade de arrendamento. Aquisições de área não é prioridade, eventualmente, dependendo do negócio, acaba também adquirindo um pedaço de terra, mas a prioridade é o crescimento via arrendamentos.
Casos como a Terra Santa no passado...
Neste caso da Terra Santa, a gente adquiriu uma empresa, mas na prática a gente arrendou uma área grande. É um arrendamento entre aspas, porque não compramos as terras.
Rentabilidade melhor virá de qual cultura?
As três estão com margens menores. Do algodão e soja estão parecidas, o milho está com margem inferior, já no ano atual.
Se preço não melhorar, ano que vem podem interromper ciclo de avanço na área?
Acho que isso ocorre com o setor, mas a SLC está pouco alavancada e continua aberta ao mercado para tomar proveito das oportunidades.