Concorrentes diretos, seis grandes distribuidores americanos de drones agrícolas fizeram uma trégua em suas disputas comerciais para se tornarem aliados em uma batalha muito maior. Maiores vendedoras da marca chinesa DJI nos Estados Unidos, elas anunciaram nesta terça-feira, 16 de julho, a formação de uma coalizão para tomar partido dos orientais em um front específico da grande guerra diplomática travada com os Estados Unidos.
A estratégia de Pegasus Robotics, Rantizo, Bestway Ag, Drone Nerds, HSE-UAV e Agri Spray Drones, que juntos somam 80% do mercado, é fazer lobby junto aos representantes de estados agrícolas no Congresso dos EUA para que eles derrubem um projeto que pretende proibir a venda de aparelhos chineses – especialmente os da marca líder, a DJI –, sob a alegação de que os dados colhidos pelos drones ao sobrevoar as lavouras são capturados pelo governo da China.
Os drones pulverizadores da DJI são atualmente os mais populares do gênero no país, mas tem seu reinado ameaçado pelas restrições impostas por um projeto já aprovado na Câmara de Representantes – o equivalente à Câmara de Deputados no Brasil.
Através de uma emenda ao projeto, a marca foi incluída em uma lista de equipamentos e serviços que não poderiam obter licenças para operar em território americano.
A medida provocou debates na comunidade agrícola do país, com uma rara maioria de produtores tomando partido da empresa chinesa. A tentativa dos distribuidores, agora, é barrar o avanço da proposta no Senado, onde ainda não foi votada.
“Estamos fazendo tudo o que podemos”, disse o CEO da Drone Nerds, Jeremy Schneiderman, à AgFunderNews.
“Os membros da coalizão estão interagindo diretamente com os legisladores, mas também estamos incentivando os clientes que usam drones DJI a entrar em contato com seus representantes estaduais para explicar o impacto significativo que uma proibição das proibições da DJI teria na indústria agrícola.”
Segundo os distribuidores, a inclusão da DJI entre as marcas proibidas carece de uma justificativa palpável e baseada em evidências.
Eles alegam que empresas como a DJI implementaram, voluntariamente, através de georreferenciamento, restrições de voo sobre áreas de espaço aéreo controlado.
Ao mesmo tempo, eles afirmam que a coalizão está aberta a discutir as preocupações de segurança dos legisladores e criar padrões de segurança cibernética ou regulamentos apropriados para “proteger dados vitais em todos os drones, independentemente do país de origem”, segundo afirmou Schneiderman.
Dados da coalizão dos distribuidores apontam que o uso de drones de pulverização já cobre 3,7 milhões de acres (cerca de 1,5 milhão de hectares) em 50 diferentes culturas e 41 estados americanos. Os aparelhos chineses respondem pela vasta maioria dessa área.
Restrições também no solo
Alegações de segurança interna têm influenciado legisladores americanos também a restringirem acesso de chineses e estrangeiros de outras nacionalidades como a russa à propriedade de terras agrícolas nos EUA.
Usando esse argumento, mais de 20 governos estaduais criaram ou ampliaram o alcance de leis que regulamentam a aquisição de propriedades rurais por cidadãos e empresas de outros países. Em julho do ano passado, o Senado também aprovou uma emenda limitando a compra de propriedades por estrangeiros.
Um dos motivos mais citados pelos defensores desses projetos é a proteção do entorno de áreas estratégicas, como bases militares e garantia de que países considerados “de risco” para a soberania dos Estados Unidos.
As restrições voltaram a ser debatidas no início em 2021, depois que uma empresa chinesa adquiriu mais de 53 mil hectares de terras próximos a uma base militar no Texas e outra companhia chinesa ter comprado 121 hectares vizinhos a uma base militar em Dakota do Norte.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que há mais de16 milhões de hectares de terras agricultáveis nas mãos de empresas ou investidores estrangeiros. Isso representa cerca de 3,1% do total de terras privadas agricultáveis do país e 1,8% de toda a terra disponível nos EUA.
Desse total, a China representa menos de 1%, ou 155,4 mil hectares, somadas terras agricultáveis e não-agricultáveis.