Gigante nos setores de energia, infraestrutura e automação industrial, a alemã Siemens é um colosso com receitas anuais de 77 bilhões de euros (cerca de R$ 460 bilhões no câmbio atual), cifra obtida em 2023. E que ainda consegue crescer a taxas de dois dígitos, como aconteceu no ano passado.
Parte desse desempenho deve-se ao fato de que o grupo, criado em 1846 e com sede em Munique, manter-se atento às necessidades de diferentes mercados e se reinventar periodicamente.
Antes conhecida pela produção de grandes equipamentos para a geração de energia, por exemplo, a Siemens chegou a frequentar o concorrido mercado de telefones celulares nos anos 2000, mas após alguns anos de prejuízo, resolveu encerrar a linha mobile.
Nos últimos anos, tem focado em três frentes principais: automação, digitalização e eletrificação. E, no Brasil, tem dedicado parte relevante dessa atuação para ganhar espaço no maior segmento econômico, chegando até o campo em projetos com grandes agroindústrias.
“A Siemens consegue contribuir com a indústria com soluções do campo a gôndola”, afirma Diego Cadete, head da vertical que estrutura projetos para os setores de Alimentos e Bebidas no Brasil.
“Nosso objetivo é chegar ao agro e poder realmente entender os desafios do setor: rastreabilidade, eficiência no campo e performance industrial. Temos um olhar para construir essas etapas”.
Globalmente, o segmento é responsável por 10% das receitas da gigante alemã. Fora do Brasil, a Siemens atua, por exemplo, com a Heineken em projetos de descarbonização e gêmeos digitais de energia, de forma a reduzir o consumo e as emissões.
Por aqui, uma das grandes apostas da Siemens no agro está na pecuária, associada à indístria de carnes. Desde 2018 a empresa mantém em São Paulo, por exemplo, o Centro de Competências de Carnes.
A instalação, que é a primeira e única do tipo na empresa em todo o mundo, funciona como uma espécie de hub de soluções focadas em rastreabilidade e automação de processos para os mercados de bovinos, aves e suínos, e já conquistou alguns clientes de peso do setor.
Um dos principais projetos da companhia alemã no segmento é realizado em parceria com a JBS. O foco é a digitalização e automatização da Genu-In, unidade de negócios da empresa de alimentos que produz colágeno e gelatina a partir de subprodutos do boi, em uma planta localizada em Presidente Epitácio (SP).
Para Yuri Belentani, head do Centro de Competências de Carnes da Siemens, a criação do centro no Brasil mostra o reconhecimento da importância do País no segmento.
O Centro integra pesquisadores, instituições de pesquisa, startups e empresas parceiras da Siemens para realizar projetos personalizados para alguma companhia.
“A matriz, na Alemanha, reconheceu essa importância e criou esse centro de competência alocado no Brasil. Daqui, levamos soluções para a indústria da carne global. É um setor que compete por cada centavo, então qualquer ganho de eficiência é bem-vindo”, afirma Belentani.
Além da JBS, ele cita que o Centro já desenvolveu soluções para descarbonização através de eletrificação, aproveitamento de resíduos, biogás e digitalização de logística em frigoríficos.
Belentani conta que parte de sua rotina é visitar unidades fabris de indústrias da pecuária, e entender, na prática, quais soluções a Siemens pode entregar.
“A equipe do Centro tenta estar sempre próximo do cliente final para falar a mesma língua dele”, disse o executivo, que conversou com o AgFeed diretamente da Fispal, uma das maiores feiras de tecnologia para a indústria de alimentos e bebidas do País.
Belentani diz que, atualmente, uma demanda recorrente por parte das indústrias está na cibersegurança, a fim de aumentar a governança nas empresas.
“As soluções são escaláveis e personalizadas, então, atendemos até um pequeno frigorífico até os globais”, diz.
Além disso, vê um movimento de grandes empresas buscando tecnologias disruptivas, como IA, visão computacional e o uso de dados para insights. A companhia também oferece o desenvolvimento de aplicações da tecnologia de gêmeos digitais na pecuária.
Com a tecnologia, a empresa replica digitalmente o ambiente de produção, permitindo a realização de simulações de diferentes formas de manejo, a fim de buscar mais eficiência nas propriedades rurais.
“A dosagem precisa e a mistura de matérias-primas e aditivos alimentares são cruciais. Os dados dos estábulos desempenham um papel importante no processo de criação. Esses dados, fornecidos por equipamentos habilitados para IoT, ajudam a monitorar a saúde dos animais ou fazer previsões de crescimento”, diz a página da companhia na internet voltada para o setor.
“Dificilmente existe algum player da cadeia que não pense nesses temas. Todos sabem a necessidade que precisam disso para que possam manter o negócio sustentável e eficiente. Os clientes buscam essas soluções e a Siemens os ajuda”, conta Yuri Belentani.
Diego Cadete, head da vertical que estrutura projetos para os setores de Alimentos e Bebidas para o Brasil, acrescenta que fora da proteína animal, a empresa já atua com indústrias de etanol de segunda geração, etanol de milho e biogás.
Na Europa, a Siemens tem atuado também em conjunto com empresas de agricultura vertical. Com elas, o grupo utiliza sua expertise na automação de processos industriais, com o uso de inteligência artificial e machine learning para ajudar a manter os ambientes controlados nas condições ideais para o crescimento das plantas.
A Siemens possui ainda verticais para o setor químico, de óleo e gás, saneamento, papel e celulose e farmacêutico.