O Brasil consumiu, em 2021, 12,7 bilhões de litros de refrigerantes. Isso equivale a quase 60 litros por habitante em um ano, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (ABIR).
Para fabricar esse volume, as indústrias precisam do gás. Afinal, sem aquele barulho típico que se ouve ao abrir uma lata ou uma garrafa, e sem aquelas pequenas bolhas que sobem e formam uma espuma, não seria possível chamar a bebida de refrigerante.
Esse gás é o dióxido de carbono, ou o famoso CO2, e ele pode ser “fabricado”. Por ser um mercado grande, usinas de açúcar e etanol começam a apostar na utilização do gás resultante da fermentação da cana. Desta forma, além de evitar que ele seja jogado na atmosfera, conseguem ter uma fonte extra de receita.
É o caso da usina Cocal, localizada no interior de São Paulo. Em parceria com a Air and Parts, empresa especializada em montar estruturas para a fabricação de CO2, a usina montou uma unidade que produz 2 toneladas de gás por hora, ou 48 toneladas por dia.
Segundo Piero Acco, fundador e diretor da Air and Parts, o investimento para uma fábrica com essa capacidade fica entre US$ 2,5 milhões e US$ 3 milhões. “Isso para captar o gás com pureza suficiente para liquefazer e vender para a indústria”, explica.
Acco afirma que o CO2 não é utilizado somente pela indústria de refrigerantes, de onde vem a maior demanda. “O gás é usado também na fabricação de extintores, gelo seco e solda”.
Atualmente, o mercado de CO2 no Brasil movimenta cerca de 1.600 toneladas por dia, segundo o diretor da Air and Parts. Volume que ainda não é suficiente.
“Quando começamos esse projeto com a Cocal, havia um déficit no Brasil de 200 toneladas por dia. É provável que este número já esteja maior”, diz Acco.
Para suprir essa demanda, ele afirma que o maior potencial está mesmo em usinas de açúcar e etanol, inclusive de milho. “Estas empresas estão cada vez mais produzindo biometano, o que aumenta muito a capacidade de produção de CO2”, afirma.
Acco afirma que, normalmente, as empresas conseguem recuperar o investimento feito nas fábricas em um período de dois a três anos. “Mas com a maior demanda, aumenta o preço no mercado, e esse retorno vem mais rápido”.
Atualmente, o preço do CO2 no mercado está em aproximadamente R$ 1,50 o quilo, valor que sobe durante o verão.
“Antes da pandemia, havia a perspectiva de crescimento do mercado de bebidas entre 5% e 10% ao ano. A pandemia prejudicou, e agora está havendo uma retomada aos poucos”, diz Acco.
Recentemente, a Air and Parts fechou uma parceria com a Datagro, consultoria que faz análises e indicadores de preços ligados à agropecuária. “Eles acabam atuando no acompanhamento do mercado e nas negociações de CO2, enquanto nós ganhamos com os projetos das fábricas”, diz Acco.
Por enquanto, a Air and Parts atua como uma consultoria, que executa a montagem das unidades. No caso da Cocal, Acco importou uma fábrica que estava instalada na Colômbia, comprando os equipamentos e trazendo para o Brasil.
“Temos conversas ativas com várias usinas neste momento. A ideia agora é mudar um pouco a estratégia, e começar a entrar como sócios nas fábricas”, diz Acco.